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Primeiro Capítulo: Razão e Sensibilidade

Primeiro Capítulo: Razão e Sensibilidade

Capítulo I

Razão e Sensibilidade Texto Integral
377 páginas

ISBN:
978-85-66798-24-1


Preço: R$ 3,99

A família dos Dashwood vivia havia muito tempo em Sussex. A propriedade deles era grande e a residência situava-se em Norland Park, no centro de suas terras, onde por muitas gerações haviam vivido de maneira tão respeitável que tinham conquistado um bom conceito entre todos os vizinhos das redondezas. O proprietário anterior era um senhor solteiro que alcançou idade bem avançada e teve em sua irmã uma dedicada companheira e governanta durante muitos longos anos de sua vida. Mas a morte dela, que aconteceu dez anos antes da dele, acarretou uma grande alteração na casa; para preencher o vazio deixado pela irmã, o velho cavalheiro convidou para morar com ele a família de seu sobrinho, o sr. Henry Dashwood, herdeiro legal da propriedade de Norland e para quem ele pretendia deixar seus bens, de qualquer maneira. Em companhia do sobrinho, da sobrinha e suas filhas, os dias do velho cavalheiro foram passando confortavelmente e o apego que se estabeleceu entre eles foi crescendo. A constante atenção aos seus desejos por parte do sr. e da sra. Dashwood, que agiam não por mero interesse, mas sim por serem donos de corações bondosos, ofereceu ao idoso senhor o mais sólido conforto que alguém com sua idade poderia receber e a alegria das jovens acrescentou encanto à existência dele.

O sr. Henry Dashwood tinha um filho de seu primeiro casamento e três filhas da atual esposa. O filho, um inflexível e respeitável jovem senhor, contava com sólido amparo na herança deixada por sua mãe, uma enorme fortuna da qual recebera a metade quando alcançara a maioridade. Essa fortuna aumentara muito pelo casamento, que ocorrera pouco depois. Portanto, receber Norland como herança não era tão importante para ele quanto seria para suas irmãs, uma vez que as posses delas eram pequenas, sem contar com o que poderiam ter, caso seu pai herdasse a propriedade. A mãe delas nada possuía e o pai tinha apenas setecentas libras à disposição. A fortuna da primeira esposa fora destinada a passar diretamente para o filho, tendo o marido apenas direito ao usufruto.

O velho cavalheiro morreu; ao ser lido, seu testamento causou decepções e alegrias, como todos os testamentos. O velho cavalheiro não foi injusto, nem mal-agradecido; deixou a propriedade ao sobrinho, porém o fez em termos tais que anulou metade do valor da herança. O sr. Dashwood queria herdar a propriedade mais para a segurança da atual esposa e das filhas do que para si e o filho. A propriedade ficou assegurada sim, só que para seu filho e o filho dele, seu neto de quatro anos, de um modo que não lhe oferecia nenhuma possibilidade de vir a deixá-la como herança para as quatro mulheres que lhe eram caras e nem lhe dava o direito de vender parte da excelente madeira que suas terras produziam para entregar o dinheiro a elas. A propriedade inteira e sua produção, qualquer que fosse, encontrava-se vinculada em benefício do neto do sr. Dashwood, que, durante ocasionais visitas feitas a Norland em companhia do pai e da mãe, ganhara a afeição do idoso tio. Isso não é difícil para uma criança encantadora, de dois ou três anos; o modo de falar engraçado, a audácia e o encantamento de ter o mundo inteiro a descobrir, as travessuras marotas, deliciosas, e a enorme tendência a fazer barulho sobrepuseram-se ao valor de todas as atenções que o velho proprietário havia recebido durante anos da sobrinha e das filhas dela. No entanto, ele procurou não ser injusto e deixou mil libras para cada uma.

Em princípio, a decepção do sr. Dashwood foi enorme; mas seu temperamento era alegre e corajoso, tinha a razoável esperança de viver ainda por muitos anos e, econômico como era, de ter tempo para trabalhar e ganhar algum dinheiro a fim de aumentar o dote das filhas. Mas a sorte, que tardara tanto a chegar para ele, durou apenas um ano, tempo esse que sobreviveu ao tio. Tudo que restou à viúva e às filhas perfazia dez mil libras, incluindo o que elas haviam recebido por herança.

O filho do sr. Dashwood foi chamado com urgência assim que ficou evidente a iminência do apagar-se de sua vida e ele recomendou-lhe, com todo o ímpeto e calor que o estado terminal lhe permitia, que cuidasse da madrasta e das meio-irmãs. O sr. John Dashwood não alimentava fortes sentimentos por essa parte da família, mas se sentiu tocado pelo pedido de tal natureza em um momento tão solene e prometeu fazer tudo que estivesse ao seu alcance para ampará-las. Diante da promessa, o pai entregou-se ao inevitável sem resistência e o sr. John Dashwood teve tempo de verificar prudentemente o que estava ao seu alcance para ajudar as quatro mulheres.

Ele não era uma pessoa ruim, a não ser que se considere ruim um homem de coração um tanto duro, de natureza um tanto egoísta. Mas de modo geral, era bem considerado, uma vez que cumpria com seus deveres normais de maneira irrepreensível. Caso se houvesse casado com uma mulher agradável, com certeza teria se tornado ainda mais respeitável do que era — poderia até mesmo ter se transformado também em um homem agradável, uma vez que se casara muito jovem e muito apaixonado pela esposa. No entanto, a sra. John Dashwood era uma acentuada caricatura de si mesma, com mentalidade muito mesquinha e egoísta.

Ao fazer a promessa para o pai, ele se determinara a aumentar a herança das irmãs, que no momento era de mil libras para cada uma. De fato, pretendia ser imparcial nesse ponto. A perspectiva de um acréscimo de quatro mil libras por ano na sua renda, além do que recebia da metade da fortuna deixada pela mãe, aquecia-lhe o coração e o fazia sentir-se capaz de ser generoso. Sim, daria as três mil libras para elas: seria um gesto liberal e lindo! Devia ser o suficiente para que ficassem bem. Três mil libras!... Poderia recuperar essa soma considerável com poucos inconvenientes, apenas economizando. Ele pensou nisso naquele dia, depois nos dias que se seguiram e não se arrependeu.

Nem bem encerrou-se o funeral de seu pai, a sra. John Dashwood chegou com o filho e empregados, sem dar o menor aviso à sogra. Ninguém contestava o direito dela de ir para Norland, pois a casa passara a ser de seu marido no momento em que o pai dele falecera, mas a grosseria dessa atitude era enorme e para uma mulher na situação da sra. Dashwood, pessoa de sentimentos delicados, deve ter sido altamente desagradável. Esta senhora tinha tão perfeito senso de honra e era de uma generosidade tão romântica que uma ofensa dessa espécie feita ou recebida por qualquer pessoa causava-lhe um incontrolável desgosto. A sra. John Dashwood jamais fora benquista por alguém da família do marido, contudo, até aquele momento, ela ainda não tivera oportunidade para demonstrar-lhes o pouco caso que era capaz de fazer do bem-estar e conforto das demais pessoas quando dependessem dela.

A sra. Dashwood foi atingida de modo tão profundo por essa atitude rude e sentiu tal desprezo pela nora, devido ao seu modo mal-educado de agir, que teria saído da casa no momento em que ela entrara, se sua filha mais velha não a convencesse a pensar com cuidado antes de ir embora. Pelo bem das filhas, as quais amava com ternura, a senhora decidiu ficar e evitar uma ruptura com o irmão delas.

Elinor, a filha mais velha cujo conselho fora tão acertado, tinha um poder de compreensão e uma firmeza de julgamento que a haviam tornado, apesar de ter apenas dezenove anos, conselheira da mãe e a qualificavam para contrabalançar, em proveito das quatro, a ligeireza de raciocínio da sra. Dashwood, que comumente a levava a cometer imprudências. A srta. Dashwood tinha excelente coração — era afetuosa e de sentimentos fortes, mas sabia como controlá-los. Esta era uma sabedoria que a mãe dela ainda estava por adquirir e que nenhuma de suas duas irmãs se mostrava interessada em aprender.

As habilidades de Marianne eram, em alguns aspectos, quase iguais às de Elinor. Era sensível e inteligente, mas descontrolada: suas tristezas e suas alegrias eram intensas e sem a menor moderação; generosa, amável e atenciosa, ela era tudo, menos prudente. A semelhança física entre Marianne e a irmã impressionava.

Elinor via com grande consternação o excesso de sensibilidade da irmã, porém a sra. Dashwood valorizava e estimulava esse traço de caráter. Ambas se encorajavam quer na violência, quer na aflição. A agonia de um desgosto, que as subjugava em princípio, era em seguida renovada por vontade própria, alimentada, recriada uma vez, outra e mais outra.

Assim, entregaram-se inteiramente à tristeza, procurando aumentar a infelicidade com qualquer elemento que servisse para isso e determinaram-se a não admitir nenhuma espécie de consolo no futuro. Elinor também se afligiu com a situação, porém se mantinha disposta a lutar e a dar ânimo a si mesma. Conseguiu comunicar-se com o irmão, foi capaz de receber a cunhada quando ela chegou à propriedade e de tratá-la com a devida atenção; soube fazer com que a mãe agisse da mesma forma e encorajou a irmã a comportar-se de maneira bem-educada.

Margaret, a irmã mais nova, era uma menina saudável e bem-humorada; mas como já absorvera uma boa quantidade do romantismo de Marianne, sem ter absorvido também sua razão, aos treze anos não prometia igualar-se às irmãs em um período mais adiantado de sua vida.

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