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Primeiro Capítulo: "A Ilha do Dr Moreau" de H. G. Wells

Primeiro Capítulo: A Ilha do Dr Moreau

1. A Bordo

A Ilha do Dr Moreau Texto Integral
140 páginas

ISBN:
978-85-66798-03-6


Preço: R$ 3,99

Ali fiquei atirado sobre um dos bancos de remadores de pequena embarcação, não sei durante quanto tempo, imaginando que, se ao menos para isso me sobrassem forças, poderia beber água do mar para morrer mais depressa. Enquanto permanecia assim estendido, avistei, sem todavia ligar a isso maior interesse do que a qualquer outra coisa que me deparasse, avistei uma vela no extremo da linha do horizonte, a qual se dirigia para o meu lado. O meu espírito devia estar, nesse momento, incapaz do mínimo raciocínio, mas, não obstante isso, lembro-me perfeitamente de tudo quanto se passou.
Lembro-me do balanço infernal das ondas, que me fazia vertigens, e também parece-me estar ainda presenciando a dança contínua da vela no horizonte; eu tinha a absoluta convicção de estar já morto, e pensava, com amarga ironia, na inutilidade daquele socorro que ia chegar demasiado tarde — e por tão pouco — para me achar ainda com vida.
Durante um espaço de tempo que me pareceu interminável, ali fiquei caído sobre o banco, com a cabeça encostada à borda, vendo aproximar-se a goleta sacudida e embalada pela vaga. Era uma pequena embarcação aparelhada de velas latinas que corria em grandes bordadas, pois o seu rumo era diretamente contrário ao vento.
Nem por um instante sequer me passou pelo espírito a ideia de tentar atrair-lhe a atenção e, desde o momento em que lhe avistei distintamente o costado, até aquele em que me achei em uma cabine de ré, só me restam reminiscências muito confusas. Guardo ainda uma vaga impressão de ter sido suspendido até o passadiço, de ter visto uma fisionomia rubicunda, cheia de manchas de sardas e rodeada de uma cabeleira e de barbas ruivas, a qual olhava para mim do alto da ponte; de ter também visto um outro rosto muito tisnado com uns olhos extraordinários, muito perto dos meus; mas, até tornar a vê-los, acreditei ter sido vítima de um pesadelo. Pareceu-me que pouco depois me deitaram entre os dentes cerrados um líquido qualquer; e foi tudo.
Permaneci sem sentidos durante muito tempo. A cabina onde afinal voltei era muito apertada e pouco limpa. Um homem bastante moço, de cabelos louros, de bigode amarelo e arrepiado, lábio inferior pendente, estava sentado junto de mim e tomava-me o pulso. Ficamos por um instante a olhar um para o outro sem falar.
Seus olhos eram pardos, úmidos e inexpressivos.
Então ouvi justamente por cima da minha cabeça, um ruído como o de uma cama de ferro arrastada, e o grunhido surdo e irritado de um grande animal. Ao mesmo tempo o homem falou, repetindo a pergunta já anteriormente feita: — Como se sente agora?
Creio que respondi que me sentia bem . Não me era possível compreender o modo como ali viera ter, mas o homem provavelmente leu nos meus olhos a pergunta que eu não conseguia articular.
— Acharam-no em um barco — a morrer de fome. O barco chamava-se Senhora Altiva e tinha na amurada manchas esquisitas.
Nesse momento, volvi os olhos para as mãos: estavam tão emagrecidas que pareciam sacos de pele suja cheios de ossos; a esta vista, readquiri a lembrança do que se passara.
— Tome um pouco disso, disse ele, e administrou-me uma dose de uma espécie de droga vermelha e gelada. O senhor foi feliz em ser acolhido em um navio que tinha a bordo um médico. Ao falar, notava-se um defeito de articulação que o tornava um tanto cicios.
— Que navio é este? — proferi lentamente e com uma voz que o meu longo silêncio tornara rouca.
— É um pequeno navio mercante que navega entre a África e o Calão. Chama-se Ipecacuanha. Nunca perguntei de que país ele vem: sem dúvida do país dos loucos. Da minha parte nada mais sou que um simples passageiro embarcado em Arisca. Por cima da minha cabeça começou o ruído, misto de grunhidos coléricos e de entonações de voz humana. Depois, outra vez intimou um "maldito idiota" a que se calasse.
— O senhor estava quase morto, continuou o meu interlocutor, escapou de boa. Mas presentemente inoculei-lhe um pouco de sangue nas veias. Não sente dor no braço? São as injeções. Saiba que esteve sem sentidos durante perto de trinta horas. A reflexão voltava-me lentamente. Fui arrancado ao meu devaneio pelos latidos de uma matilha de cães.
— Posso tomar um pouco de alimento sólido? — perguntei.
— Graças a mim! — respondeu ele. Estão cozinhando carneiro para seu alimento.
— É isso, — afirmei com segurança, comerei de boamente um pouco de carneiro.
— Mas, continuou ele com uma excitação, estou ansioso por saber a causa por que o senhor se encontrava só, dentro daquele barco. Julguei perceber no seus olhos uma certa expressão de desconfiança.
— Diabos levem estes bramidos! E saiu precipitadamente da cabine. Ouvi-o disputar violentamente com alguém que me pareceu responder-lhe em uma linguagem ininteligível. A discussão pareceu acabar por meio de murros, mas nesse ponto, cuidei que me iludia o ouvido. Depois o médico principiou a chamar pelos cães, em altos brados, e em seguida voltou para o camarote.
— Ora muito bem! — disse ele, assim que apontou no limiar da entrada, ia principiar a contar-me a sua história. Primeiramente fiz-lhe saber que me chamava Eduardo Prendick e que me ocupava muito de história natural para esquivar-me ao tédio das horas desocupadas que me proporcionava a minha relativa fortuna e a minha posição independente. Isto pareceu interessá-lo.
— Eu também me dedico às ciências, — confessou ele. Fiz os meus estudos de biologia no University College de Londres, estirpando os óvulos das lombrigas e os órgãos dos caracóis. Ah! sim, já lá se vão dez anos. Mas continue... continue... diga-me porque estava naquele barco.
Contei-lhe o naufrágio da Senhora Altiva, o modo pelo qual pude escapar-me na iole de bordo com Helmar e Constans, a discussão que houve sobre a partilha das rações, e como os meus dois companheiros caíram por cima da borda, no meio de uma luta corpo a corpo.
Parece que lhe agradou a franqueza com que lhe narrei a minha história. Sentia-me horrivelmente fraco e falara-lhe em frases curtas e concisas. Assim que acabei, ele tornou a conversar sobre história natural e sobre os seus estudos biológicos.
Segundo todas as probabilidades, devia ter sido um estudante de medicina muito medíocre; por fim principiou a falar de Londres e dos prazeres que ai se encontram; até mesmo chegou a me contar algumas anedotas.
— Há dez anos que abandonei tudo isso. Era moço e divertia-me! Mas fui demasiado estúpido... Aos vinte e um anos tinha dissipado tudo quanto possuía. Posso dizer que hoje estou muito diferente... Mas preciso de ir ver o que o idiota do cozinheiro está fazendo do seu carneiro.
O grunhido, por cima da minha cabeça, recomeçou tão inesperadamente e com uma cólera tão selvagem que estremeci.
— Que é isto? — gritei; mas a porta estava fechada.
Daí a pouco ele voltou com o carneiro cozido e o cheiro apetitoso fez-me esquecer de perguntar-lhe a causa daqueles bramidos de animais que eu tinha ouvido.
Após um dia passado entre refeições e somos alternados, recobrei um pouco as forças perdidas durante aqueles oito dias de inanição e de febre, e pude ir do meu beliche até o postigo da amurada e ver as vagas lutarem conosco em velocidade. Calculei que a goleta navegava no rumo do vento. Montgomery – era este o nome do médico louro — entrou nesse momento e pedi-lhe a minha roupa. Aquela que eu vestia na ocasião em que me salvaram, tinha sido atirada ao mar. Emprestou-me um terno de brim que lhe pertencia, mas como ele tinha pernas muito compridas e era um tanto corpulento, a roupa que me cedeu ficava-me folgada em demasia.
Principiamos a falar em diversas coisas, e disse-me ele então que o capitão se achava no seu camarote, tendo já bebido três quartas partes do que era preciso para ficar completamente embriagado. Enquanto eu me vestia, fazia-lhe perguntas sobre o destino do navio. Respondeu-me que o navio ia para o Hawai, mas que ele ia desembarcar antes.
— Onde? — perguntei.
— Em uma ilha... onde moro. Pelo menos que eu saiba, ela não tem nome.
E olhou pra mim com uma expressão tal que imaginei que a minha pergunta o constrangia.
— Estou pronto, — exclamei, e saímos do camarote, indo ele adiante.
Na escada do tombadilho, um homem impediu-nos a passagem. Estava de pé num dos últimos degraus passando a cabeça pela escotilha. Era um ente disforme, baixo, corpulento e desajeitado, com as costas arqueadas, o pescoço peludo e a cabeça enterrada nos ombros. Vestia uma roupa de sarja azul escuro. Ouvi rosnarem os cães furiosamente e imediatamente o homem principiou a descer aos arrancos; empurrei-o para não ser empurrado na passagem e ele voltou-se com uma vivacidade puramente animal.
Ao ver-lhe de relance o rosto preto, estremeci involuntariamente. Esse rosto projetava-se para a frente de modo a lembrar um focinho; a boca imensa e semi-aberta mostrava duas fileiras de dentes brancos, os maiores de todos quantos tenho visto em uma boca humana. Os olhos, injetados de sangue, tinham um círculo branco extremamente estreito e volta das pupilas fulvas. Havia em toda aquela figura uma estranha expressão de sobressalto e de excitação.
— Maldita criatura! Está sempre no meio do caminho, — disse Montgomery. O homem desviou-se sem dizer uma palavra. Subi até acima, seguindo com os olhos, quase involuntariamente, aquele ente esquisito. Montgomery demorou-se um instante em baixo.
— Nada tens que fazer aqui, o teu lugar é na proa, — disse ele em tom autoritário.
— Eles... não me querem na proa, balbuciou a tremer o homem de rosto preto.
Falava lentamente, com um pouco de rouquidão na voz.
— Não te querem na proa! Mas sou eu quem te manda para lá! — gritou Montgomery em tom ameaçador.
Ele ia acrescentar qualquer coisa ao que já dissera, quando, dando comigo, subiu a escada, seguindo-me. Eu estava parado, com a metade do corpo para fora da escotilha, contemplando e observando ainda, com extrema surpresa, a grotesca fealdade daquele ente. Nunca me acontecera ver um todo de criatura humana mais extraordinariamente repulsivo e não obstante — a ser admissível esta contradição — experimentei ao mesmo tempo a impressão inexplicável de ter já notado, não me recordava onde, as mesmas feições e os mesmos gestos que naquela ocasião tanto me intimidavam. Mais tarde, lembrou-me que provavelmente já o tinha visto quando me içavam para bordo; isto porém não conseguiu desfazer a suspeita que eu conservava de um encontro anterior. Mas quem haverá que, tendo uma vez avistado um semblante tão singular, poderia esquecer em que circunstâncias ele se lhe apresentara?
O movimento que fez Montgomery para me acompanhar, desviou-me a atenção e voltei os olhos para o tombadilho da pequena goleta. Os ruídos, que eu tinha ouvido, já tinham preparado mais ou menos para o que se me ofereceu ao olhar. Certo eu nunca tinha visto um tombadilho tão pouco asseado; estava completamente juncado o chão de detritos e de imundícies de toda espécie. Uma grande matilha de cães galgos estava atada ao grande mastro, com correntes de ferro, e eles puseram-se todos a latir e saltar assim que me viram.
Perto do mastro de mezena, um enorme jaguar estava deitado ao comprido no fundo de uma jaula de ferro pequena demais para que ele se pudesse mover é vontade. Mais ao longe, encostadas aos paveses de estibordo, viam-se imensas caixas gradeadas, contendo uma grande quantidade de coelhos, e à proa, um lama solitário estava encerado entre paredes de uma gaiola estreita. Os cães estavam amordaçados com correias de couro. O único ente humano que se encontrava no tombadilho era um marinheiro magro e silencioso que dirigia o leme.
As barganteias, sujas e remendadas, enfunavam-se ao sopro do vento, e a pequena embarcação parecia levar todas as suas velas. O céu estava límpido; o sol ia descendo para o oeste; longas vagas que o vento coroava de espuma, lutavam de celeridade com a marcha do navio. Ao passar junto ao homem do leme, voltamos para a popa, e apoiando-nos ao corrimão das trincheiras, estivemos lado a lado a olhar durante um instante a água que espumava ao casco da goleta, e as bolhas enormes que giravam e desapareciam na esteira do navio. Voltei-me para a coberta atravancada de animais e de detritos.
— É um curral oceânico? — perguntei.
— Dir-se-ia que sim, — respondeu Montgomery.
— Que se irá fazer daqueles animais? Será uma bagagem? Pensará o capitão em vendê-los aos naturais do Pacífico?
— Dir-se-ia que sim, não é verdade? — repetiu Montgomery, e voltou-se novamente para a esteira do navio.
Repentinamente ouvimos um ganido acompanhado de pragas que vinham da escotilha, e o homem disforme, de rosto negro, apareceu precipitadamente no tombadilho. Ao verem-no, os cães, que já se haviam calado, cansados de latir para mim, pareceram tomados de furor, principiaram a rosnar e a ladrar sacudindo violentamente as caudas. O negro hesitou um momento, diante deles, o que permitiu ao homem de cabelos vermelhos, que o perseguia, acertar-lhe um terrível murro entre os ombros. O pobre diabo caiu como um boi no matadouro e foi rolar por cima dos detritos, no meio dos cães furiosos. Foi para ele uma felicidade que estes estivessem amordaçados. O homem de cabelos vermelhos que vestia uma roupa de sarja bastante suja, soltou então um rugido de alegria e ficou parado, titubeante, com grave risco, segundo me pareceu, de cair para trás pela abertura da escotilha, ou para a frente por cima da sua vítima.
No momento em que aparecera o segundo homem, Montgomery estremecera violentamente.
— Olá! Então, — gritou ele em tom sério.
No castelo de proa apareceram dois marinheiros.
O negro, que soltava urros estranhos, contorcia-se entre as patas dos cães, sem que ninguém lhe fosse em socorro. Os animais furiosos faziam todos os esforços para mordê-lo entre as correias das mordaças. Seus corpos cinzentos e ágeis se misturavam, em uma luta renhida, com o do negro que rolava em todos os sentidos. Os dois marinheiros presenciavam a cena, como se aquilo fosse um divertimento inigualável. Montgomery deixou escapar uma exclamação de cólera e dirigiu-se para a matilha.
A esse tempo já o negro se tinha erguido e voltava cambaleando para a proa. Lá chegando, agarrou-se às trincheiras, perto dos ovens da mezena, olhando para os cães, ainda desconfiado. O homem de cabelos vermelhos dava gargalhadas de satisfação.
— Olhe, capitão, é bom que saiba que essa maneira de proceder não me agrada, — disse Montgomery sacudindo o homem ruivo pelo braço.
Eu estava por detrás do médico. O capitão voltou-se e olhou para seu interlocutor com a expressão melancólica e ao mesmo tempo solene de ébrio.
— Que?... Que é que... não lhe agrada? Perguntou ele... imundo remendeiro! Imundo serrador de ossos! Acrescentou, depois de ter fixado Montgomery por um instante com ar sonolento. Tentou livrar o braço, mas, após duas tentativas infrutíferas, enterrou nos bolsos do casaco as enormes mãos avermelhadas.
— Este homem é o diabo! — bramiu o capitão. Faço o que quero dentro do meu navio. Dito isso, voltou-se na intenção de tornar à trincheira. Julguei que, vendo-o embriagado, Montgomery ia deixá-lo, mas este apenas se tornou um pouco mais pálido e seguiu o capitão.
— Ouça bem o que digo, capitão, insistiu ele, não quero que maltratem aquele homem. Desde que ele está a bordo, não cessam de o insultar.
Os vapores do álcool impediram por um instante que o capitão respondesse.
— Imundo remendeiro de ossos! Foi tudo quanto ele julgou necessário replicar por fim.
Conheci claramente que Montgomery tinha mau caráter, e que aquela rixa devia estar incubada desde há muito tempo.
— Este homem está embriagado, o senhor nada poderá obter dele, — disse eu um pouco oficiosamente. Montgomery fez com seu lábio superior pendente, uma contorção horrorosa.
— Está sempre embriagado. Pensa então que seja uma desculpa aos maus tratos que dá aos passageiros?
— O meu navio, — principiou o capitão, fazendo gestos pouco firmes para mostrar os animais, — era uma embarcação asseada... Veja-o agora. (Realmente o que ele menos estava então era limpo). A minha equipagem era limpa e digna de toda a consideração...
— O senhor anuiu em receber a bordo estes animais.
— Bem quisera nunca ter avistado a sua ilha infernal. Para que diabo se precisa... de animais em uma ilha como aquela? E depois, seu criado...julguei que fosse um homem...mas é um louco... Nada tem que fazer a ré. Julga que o malfadado barco lhe pertence todo inteiro?
— Desde o primeiro dia os seus marinheiros têm deixado de maltratar o pobre diabo.
— Sim! É isso mesmo o que ele é... um diabo, um ignóbil diabo... Os meus homens não podem tolerá-lo. Cá por mim, não o posso ver. Ninguém o pode aturar, nem mesmo o senhor. Montgomery interrompeu-o.
— Pouco importa; ao senhor compete-lhe deixar aquele homem tranquilo. E acentuava as palavras por meio de veementes sacudidelas com a cabeça; o capitão, porém, que parecia então querer continuar a disputa, levantou a voz.
— Se ele tornar a vir aqui, furo-lhe a pança. Sim, furo-lhe a maldita pança. Quem é o senhor, o senhor para me dar ordens, a mim. Sou o capitão e o navio me pertence. Aqui sou a lei, digo-o e repito-o, a lei e os profetas. Ficou decidido que eu levaria um homem e seu criado a Arisca e que os reconduziria com alguns animais. Mas não me comprometi a transportar um maldito idiota e um serrador de ossos, um imundo remendeiro, um... Pouco importa, porém, saber as injúrias que ele dirigiu a Montgomery. Vi este último dar um passo para a frente, e intervi.
— Ele está embriagado, disse-lhe eu.
O capitão vociferava investidas cada vez mais grosseiras.
— Basta! Que é isso? — exclamei voltando-me para ele, pois vira que ameaçavam perigo os olhos e o rosto pálido de Montgomery, mas tão somente logrei atrair sobre mim a saraivada de injúrias. Contudo dava-me por feliz em ter, embora a troco de inimizade do beberrão, desviado as consequências de uma rixa. Não me lembro ter ouvido jamais tão soezes grosserias correrem a fluxo dos lábios de um homem, se bem que, no decurso das minhas peregrinações, me tenha acontecido frequentar companhias não pouco excêntricas. Elas foram por vezes tão ultrajantes que muito me custou manter a calma — conquanto seja naturalmente pacífico o meu caráter. Todavia, é fora de dúvida que, ao dizer ao capitão que se calasse, esqueci-me de que pouco mais era eu que um destroço humano, privado de todo e qualquer recurso, não tendo sequer pago a minha passagem, — que dependia simplesmente da generosidade — ou do espírito especulativo — do patrão do navio. Isto tudo soube ele lembrar-me com notável energia.
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