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Primeiro Capítulo: As Aventuras de Tom Sawyer

Primeiro Capítulo: As Aventuras de Tom Sawyer

Capítulo 1

As Aventuras de Tom Sawyer Texto Integral
293 páginas

ISBN:
978-85-66798-43-2


Preço: R$ 3,99

– Tom!

Nenhuma resposta.

– Tom!

Não se ouviu o menor som.

– Mas o que foi que aconteceu com esse menino? Não faço a menor ideia! Tom, onde é que você se meteu?

A velha senhora puxou os óculos para a ponta do nariz e olhou por cima deles, percorrendo toda a sala com um olhar vigilante. Depois, empurrou os óculos para a testa e olhou por baixo deles. Ela raramente ou nunca olhava através deles para uma coisa tão pequena como um menino, porque estes eram seus óculos favoritos, o luxo e o orgulho de seu coração, que ela tinha mandado fazer para ocasiões especiais, não para o uso diário; se quisesse, poderia olhar através de dois pedaços de vidro da porta do fogão. Por alguns instantes pareceu um tanto confusa e então falou, sem fúria, mas alto o bastante para que todos os móveis escutassem:

– Olhe, garanto que, se eu pegar você....

Deixou a frase pelo meio para tomar fôlego, porque a essa altura já estava abaixada dando vassouradas embaixo da cama com o cabo da vassoura para ver se havia alguém escondido ali. O único resultado de sua investigação cuidadosa foi assustar o gato, que saiu em disparada.

– Eu nem escutei os passos desse menino!

Foi até a porta aberta e ficou parada por um momento, olhando para os tomateiros e ervas daninhas, na maior parte estramônios, que formavam o jardim. Nada de Tom. Então, ergueu num tom destinado a cruzar as distâncias, e berrou:

– Tom! Onde está você? To-o-om!...

Justamente nesse momento, ela escutou um barulhinho muito leve às suas costas e virou-se bem a tempo de agarrar um meninozinho pelos fundilhos frouxos das calças. O garoto esperneou, mas não conseguiu fugir.

– Ah, peguei! Devia ter me lembrado daquele armário. O que é que você estava fazendo socado lá dentro?

– Nada, titia!

– Ah, nada, é? Olhe o estado de suas mãos! Veja só como sua boca está melada! Que meleca toda é essa?

Eu não sei , titia!

– Ah, o pobrezinho não sabe!... Pois eu sei muito bem o que é. É geleia, sem a menor dúvida. E olhe que eu já lhe disse milhares de vezes que, se não parasse de mexer nos potes de geleia, eu ia arrancar sua pele! Onde é que está o meu chicote?

O "espectro" da chibata pairava no ar entre eles. O perigo era desesperador.

– Minha nossa! Olhe para trás, titia!

A velha senhora girou nos calcanhares, com medo de algum perigo, enquanto arrebanhava as saias para evitar que fossem rasgadas. Imediatamente o rapazinho saltou por cima da cerca alta de tábuas de madeira e desapareceu do outro lado. Tia Polly ficou parada durante um momento, completamente surpresa. Depois, deu uma risadinha bondosa:

– Mas que raio de menino! Será que eu não aprendo nunca? Pois o diabinho já não me enganou um monte de vezes? Como é que eu tiro os olhos de cima dele outra vez? Não adianta, uma velha boba é sempre a maior das tolas. Depois que um cachorro fica velho, não aprende a fazer mais nada, como diz o ditado. Mas o problema é que ele inventa uma travessura nova todos os dias. Nunca faz a mesma coisa duas vezes seguidas. Como é que a gente vai saber qual é o próximo truque dele? Até parece que ele sabe justamente até que ponto pode me aborrecer, antes que eu fique realmente zangada. Pelo menos, ele sabe muito bem que, se conseguir me confundir por um momento, ou me fazer rir, já ganhou a parada e eu não sou mais capaz de lhe dar nem uma palmada no traseiro. Mas o bom Senhor sabe que não estou cumprindo o meu dever com esse menino, realmente não estou, Deus é testemunha. "Poupe a vara e estrague a criança", como diz na Bíblia. Estou arranjando pecados e sofrimento para nós dois, sei muito bem disso !

Fez uma pequena pausa e prosseguiu:

– Esse menino é um grande maroto, mas pelo amor de Deus! Ele é filho de minha pobre irmã falecida, não tem pai nem mãe, o coitadinho! E não tenho coragem de lhe dar umas boas lambadas, como ele merece. Mas a cada vez que eu deixo de lhe dar uma boa sova, fico com uma dor na consciência! E se por acaso eu consigo lhe bater, meu coração parece que vai partir-se em dois! Mas o que é que eu posso fazer? "O homem, nascido de mulher, é de poucos dias e cheio de inquietação", conforme dizem as Sagradas Escrituras, e eu acho que é isso mesmo. Agora, ele vai passar escondido a tarde toda, vai matar as aulas e eu vou ser obrigada a fazê-lo trabalhar amanhã como castigo. Acho que vou até me sentir mal, obrigando o menino a trabalhar em um sábado, quando todos os outros garotos vão estar de folga da escola! Mas ele odeia ter de fazer qualquer trabalho, muito mais que qualquer outra coisa, e eu tenho de cumprir meu dever para com ele, senão vou estragar completamente a criança!

Tom realmente ficou longe da escola a tarde toda e se divertiu bastante. Ele só voltou à noitinha e mal teve tempo de ajudar o negrinho Jim a serrar a lenha para o dia seguinte e cortar as achas com a machadinha antes do jantar – pelo menos ele chegou a tempo de contar suas aventuras a Jim, enquanto este fazia três quartos do trabalho. Sidney, o irmão mais moço de Tom (na verdade, era seu meio-irmão), já tinha terminado sua parte do trabalho (recolher as lascas do chão). Ele era um menino quieto e não se metia em aventuras nem em confusões. Enquanto Tom estava jantando e roubando torrões de açúcar sempre que podia, tia Polly começou a lhe fazer perguntas ardilosas e cheias de segundas intenções. Na verdade, ela estava tentando "armar-lhe uma cilada" para que ele fizesse algumas revelações comprometedoras. Como a maioria das pessoas de coração meigo, ela tinha a vaidade de acreditar ser muito esperta e ter um grande talento para a criação de manobras tortuosas e cheias de mistérios. De fato, considerava que suas artimanhas mais ingênuas eram maravilhosos exemplos de esperteza. Assim, ela disse:

– Tom, estava meio quente na escola, não estava?

– Sim, "siora".

– Realmente muito quente, não estava?

– Sim, "siora".

– Você não ficou com vontade de ir nadar no rio, Tom?

Uma pontinha de medo surgiu no coração de Tom – uma suspeita desconfortável de que tinha sido apanhado. Observou cuidadosamente a expressão do rosto de tia Polly, mas não conseguiu descobrir nada. Então, respondeu:

– Não, "siora". Bem, muita vontade eu não tive.

A velhinha estendeu a mão e apalpou a camisa de Tom. Depois disse:

– Você não está com muito calor agora, está?

Sentiu-se um pouco envaidecida, porque tinha tocado na camisa do menino e descoberto que esta se achava seca, sem que ninguém suspeitasse que sua intenção era justamente essa desde o começo. Mas acontece que, a essa altura, Tom já sabia muito bem "de que lado o vento soprava". Assim, foi falando bem depressa para se defender antes que viesse o ataque seguinte:

– Alguns dos meus colegas tiraram água do poço e derramamos na cabeça – a minha ainda está um pouco úmida. Está vendo?

Tia Polly ficou desapontada por não haver percebido essa "prova circunstancial" e deste modo ter perdido a oportunidade de marcar um ponto contra o garoto. Mas sentiu um novo acesso de inspiração:

– Tom, você não desmanchou a costura do colarinho de sua camisa, desmanchou? Quero dizer, na hora em que derramou água na cabeça. Abra seu casaco.

Uma expressão de alívio substituiu a preocupação no rosto de Tom. Ele abriu o casaco e mostrou que o colarinho da camisa estava perfeitamente costurado.

– Droga! Está certo, chega de brincadeiras. Eu só estava tentando descobrir se você havia cabulado a aula e ido nadar no rio. Mas eu perdoo suas travessuras desta vez, Tom. Acho que você é um gato escaldado mesmo, como diz o ditado. Mas preste bem atenção: eu disse que ia perdoá-lo desta vez. Não faça isso de novo.

Ela estava meio aborrecida porque sua esperteza não tinha dado resultados e ao mesmo tempo estava satisfeita porque Tom tinha ido à escola e, pelo menos desta vez, tinha demonstrado ser obediente. Mas então, Sidney disse:

– Puxa vida, titia, a senhora não tinha costurado o colarinho dele com linha branca? Repare que agora está cerzido com linha preta...

– Ora, mas é claro! Eu costurei com linha branca. Tom!

Só que Tom não esperou pelo resto. Saiu correndo pela porta e só parou para dizer:

– Siddy, você vai me pagar por isso!

Escondido em um lugar seguro, Tom examinou as duas agulhas grandes que estavam enfiadas por trás das lapelas de seu casaco – as duas com um bom pedaço de linha enfiada – uma com linha branca e a outra com linha preta. Ele comentou consigo mesmo:

– Ela nunca teria percebido, se não fosse por aquele intrometido do Sid. Mas que droga, também, algumas vezes ela costura com linha branca e outras com linha preta. Ia ser muito melhor que ela usasse linha de uma cor só. Como é que eu vou conseguir me lembrar o tempo todo de qual foi a cor que ela usou? Mas pode apostar qualquer coisa como eu vou dar uma sova no Sid pelo que ele me fez. Ele me paga por essa, ah, me paga!

Somos obrigados a confessar que Tom não era o menino modelo da aldeia. O pior é que ele sabia muito bem qual era o menino modelo, e tinha raiva dele.

Mas dentro de dois minutos, ou até menos do que isso, ele já tinha esquecido de seus problemas. Não porque eles fossem menores e menos difíceis para ele que os de um homem adulto, mas porque seu interesse foi despertado por outra coisa e as dificuldades saíram imediatamente de sua cabeça. É o mesmo que acontece com uma pessoa adulta, quando esquece temporariamente suas infelicidades na excitação provocada por uma nova aventura ou pela possibilidade de um negócio lucrativo. Este novo interesse era um tipo diferente de assobio, que lhe tinha sido ensinado por um de seus amigos negros nessa mesma tarde. Ele estava ansioso para praticar esta nova habilidade sem ser perturbado. O assobio era executado com um trinado peculiar, como o gorjeio de um pássaro, um som líquido que era produzido colocando e retirando bem depressa a ponta da língua no céu da boca, em intervalos bem curtos, ao mesmo tempo em que se entoava uma melodia qualquer por meio de um assobio comum. Se o leitor já foi um menino, provavelmente vai se lembrar de como é que se faz isso. Com bastante diligência e muita atenção, Tom logo pegou o jeito e seguiu caminhando rua abaixo, com a boca cheia de harmonia e a alma cheia de gratidão. Sentia-se bem do jeito que um astrônomo que acabou de descobrir um planeta novo sente. E se pensarmos simplesmente em um prazer forte, profundo e completo, a vantagem estava com o menino, e não com o astrônomo.

No verão, os crepúsculos são longos. Ainda não estava bem escuro. Depois de praticar bastante tempo, Tom parou de assobiar. De repente, viu um estranho: um outro garoto, somente um pouquinho mais alto do que ele. Um visitante recém-chegado, de qualquer idade ou de qualquer sexo, era uma curiosidade impressionante na pobre aldeiazinha de St. Petersburg. E esse menino estava bem-vestido – estava usando roupas de domingo em um dia de semana. Isto era simplesmente espantoso. Seu boné era muito elegante, seu casaco de pano azul era novo e bonito e estava abotoado de cima a baixo – até mesmo suas calças estavam com um vinco perfeito. Uma coisa ainda mais assombrosa é que ele estava usando sapatos em uma sexta-feira! Até mesmo ostentava uma gravata, feita com uma fita estreita e brilhante. Tinha um ar de gente de cidade grande que perturbou Tom profundamente. Quanto mais observava esta maravilha esplêndida, tanto mais torcia o nariz para toda essa elegância desnecessária, enquanto percebia cada vez mais como ele mesmo estava mal trajado. Nenhum dos meninos falou. Quando um se movia, o outro se movia também – só que para os lados, como se estivessem percorrendo um círculo. Ficaram a encarar-se, olhos nos olhos, durante um longo tempo. Finalmente, Tom disse:

– Eu posso dar uma surra em você!

– Só quero ver. Experimente!

– Pois então! Eu sei que posso.

– Não, é claro que não pode.

– Posso!

– Não pode!

– Posso!

– Não pode!

Seguiu-se uma pausa desconfortável. Então, Tom disse:

– Qual é o seu nome?

– Não é da sua conta!...

– Bem, então eu vou fazer com que seja da minha conta!

– Então por que não faz?

– Continue falando e eu faço!

– Falei, falei, falei. E agora?

– Ah, você pensa que é muito esperto, não é? Eu podia te dar uma surra com uma das mãos amarrada nas costas, se eu quisesse.

– Bem, por que não faz isto, então? Você só fica falando que faz!

– Pois é isso mesmo que eu vou fazer , se você continuar a se meter comigo!

– Ah, sim! E vai trazer a família inteira para ajudar...

– Espertinho! Acha que vale muita coisa , não é mesmo?

– Pelo menos valho muito mais que você!

– Só porque tem um bonezinho besta na cabeça, acha que é grande coisa! Desafio você a jogar o boné no chão! Se não aceitar o desafio, é porque é um molenga!

– Mentiroso!

– Mentiroso é você!

– Além de mentiroso, você só sabe dizer que é bom de briga e não tem coragem!

– Ora, vá dando o fora daqui!

– Olhe, se continuar a me provocar, eu vou pegar uma pedra e te bato com ela na cabeça!

– Ah, mas é claro que vai! Estou louco de medo!

– Pois então, eu vou !

– Bem, e por que não vai , então? Por que fica só dizendo que vai fazer? Por que é que não faz? Vou te dizer por quê – é porque você está é com medo !

– Eu não estou com medo.

– Ah, está!

– Não estou!

– Está, sim!

Outra pausa. Os dois ficaram a se encarar, olhos nos olhos, e continuaram a girar um ao redor do outro. Em dado momento, encostaram os ombros. Tom disse:

– Dê o fora daqui!

– Dê o fora você!

– Eu não vou!

Eu também não vou!

E assim eles ficaram, frente a frente, cada um com um pé aberto em ângulo para dar firmeza, e os dois se empurrando com toda a força, olhando-se ameaçadoramente com o ódio estampado nos rostos. Mas nenhum dos dois conseguia tirar vantagem sobre o outro. Depois de se empurrarem bastante, até ficarem com os rostos vermelhos e suados, começaram a aliviar a pressão, com o máximo de cautela. Então, Tom disse:

– Você é um covarde e um moleirão. Vou contar ao meu irmão mais velho o que você me fez, e ele pode te bater com o dedo minguinho, e eu vou dizer para ele te dar uma surra!

– E quem se importa com seu irmão mais velho? Eu tenho um irmão que é maior do que ele; e tem mais, ele é capaz de jogar seu irmão por cima daquela cerca, também! (É claro que ambos os irmãos eram imaginários.)

– Isso é mentira!

– Só porque você quer!

Tom riscou uma linha na poeira do chão com o dedo do pé e disse:

– Desafio você a cruzar essa linha. Se cruzar, vou te bater tanto que você não vai conseguir parar em pé. Quem não aceita um desafio é um mariquinha!

Imediatamente, o outro menino cruzou a linha e disse:

– Você disse que me batia, agora quero ver se consegue.

– Não fique me empurrando, hein? Não sabe com quem está se metendo!

– Bem, você disse que ia me bater! Por que não bate agora ?

– Só vou te bater se você me pagar dois centavos!

O outro menino meteu a mão no bolso e retirou duas moedas de um centavo. Estendeu a mão para Tom com o maior desprezo estampado no rosto.

Tom deu um tapa e derrubou as moedinhas no chão.

No momento seguinte, os dois garotos estavam rolando e se debatendo na terra, agarrados firmemente como se fossem dois gatos. Durante mais ou menos um minuto, eles se puxaram e se empurraram, tentaram arrancar os cabelos e rasgar as roupas um do outro, deram-se socos e se esbofetearam, arranharam rostos e narizes e ficaram cobertos de sujeira e de glória. Dali a pouco, a confusão tomou um novo aspecto: através da poeira da batalha, viu-se o vulto de Tom, sentado sobre o peito de seu oponente, dando-lhe socos.

– Peça água! – gritou ele.

O outro menino somente lutava para se desvencilhar. Estava chorando, mais de raiva do que por qualquer outra coisa.

– Peça água! – e os socos continuavam.

Finalmente, o estranho soltou uma palavra abafada, que soou mais ou menos como "gágua", e Tom o largou, dizendo:

– Agora te ensinei uma lição. Melhor ter cuidado com quem vai se meter da próxima vez!

O menino forasteiro foi embora, esfregando a poeira das roupas, soluçando, fungando e ocasionalmente olhando para trás e sacudindo a cabeça, ameaçando à meia-voz as coisas que faria com Tom "da próxima vez que nos encontrarmos!" Tom respondeu com troças e zombarias e seguiu para o outro lado na melhor das disposições; porém, no momento em que se virava, o outro menino agarrou uma pedra, jogou-a e o atingiu bem no meio das costas; depois se virou bem depressa e correu como um antílope. Tom perseguiu o traidor até que este chegou em casa, e assim descobriu para onde ele havia se mudado. Estabeleceu uma "trincheira de combate" no portão do jardim durante algum tempo, desafiando o adversário a sair, mas o inimigo só ficou fazendo caretas através da janela e se recusou a morder a isca. Finalmente, apareceu a mãe do seu rival e gritou que Tom era uma criança malvada e vulgar e ordenou-lhe que fosse embora. Então, ele decidiu ir, mas não sem dizer que "ia ficar esperando" para "pegar" o outro.

Chegou em casa bastante tarde naquela noite. Pulou a janela com o maior cuidado e caiu nos braços de sua tia, que o aguardava sentada silenciosamente no escuro. No momento em que esta viu o estado em que se achavam suas roupas, sua resolução anterior de transformar-lhe o feriado de sábado em um período de prisão e trabalhos forçados tornou-se mais firme que uma corrente e mais forte do que diamantes.

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