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Primeiro Capítulo: Sherlock Holmes em O Cão dos Bakersville

Primeiro Capítulo: Sherlock Holmes em O Cão dos Bakersville

Capítulo I

Sherlock Holmes em O Cão dos Bakersville Texto Integral
168 páginas

ISBN:
978-85-66798-16-6


Preço: R$ 3,99

O Sr. Sherlock Holmes, que geralmente se levantava muito tarde de manhã, exceto naquelas ocasiões pouco frequentes em que passava a noite toda acordado, estava sentado à mesa do café. Eu estava parado sobre o tapete da lareira e apanhei a bengala que o nosso visitante esquecera na noite anterior. Era um belo pedaço de madeira grossa, de castão redondo, do tipo conhecido como "Penang lawyer". Logo abaixo do castão havia um anel largo de prata com quase dois centímetros e meio de largura. A James Mortimer, M.R.C.S., dos seus amigos do C.C.H.", estava gravado sobre ele, com a data "1984". Era exatamente o tipo de bengala que o antiquado médico de família costumava usar — majestosa, resistente e tranquilizadora.

— Bem, Watson, o que você concluiu dela?

Holmes estava sentado de costas para mim, e eu não havia dado a ele indicação alguma da minha ocupação.

— Como você soube o que eu estava fazendo? Acho que você tem olhos atrás da cabeça.

— Tenho, pelo menos, um bule de café bem polido folheado a prata diante de mim — disse ele. — Mas diga-me, Watson, o que você conclui da bengala do nosso visitante? Já que fomos tão infelizes perdendo-o e não tendo nenhuma ideia do que desejava, essa lembrança acidental toma-se importante. Deixe-me ouvi-lo reconstituir o homem por um exame dela.

— Acho — disse eu, seguindo até onde podia os métodos do meu companheiro — que o Dr. Mortimer é um médico idoso bem-sucedido, muito estimado, já que aqueles que o conhecem deram-lhe este testemunho de sua estima.

— Ótimo! — disse Holmes. — Excelente!

— Acho também que a probabilidade é a favor de ele ser um médico rural que faz um grande número das suas visitas a pé.

— Por que acha isso?

— Porque esta bengala, embora originalmente muito bonita, tem sido tão maltratada que dificilmente posso imaginar um médico da cidade usando-a. A grossa ponteira de ferro está gasta, portanto é evidente que ele tem caminhado muito com ela.

— Perfeitamente lógico — disse Holmes.

— E depois, novamente, há os amigos do C.C.H. Imaginaria isso como sendo Alguma Coisa de Caça, o grupo de caçadores locais a cujos membros ele possivelmente tenha dado alguma assistência cirúrgica, e que em retribuição lhe tenham feito um pequeno presente.

— Realmente, Watson, você se excede a si mesmo disse Holmes empurrando sua cadeira para trás e acendendo um cigarro. — Estou inclinado a dizer que em todas as histórias que você teve a bondade de escrever das minhas pequenas proezas você tem habitualmente subestimado as suas próprias habilitações. Pode ser que você mesmo não seja luminoso, mas você é um condutor da luz. Algumas pessoas, sem possuir gênio, têm um poder notável de estimulá-lo. Confesso, meu caro amigo, que lhe devo muito.

Ele nunca havia dito tanto antes, e devo admitir que suas palavras me deram um imenso prazer, porque eu muitas vezes ficara magoado pela sua indiferença pela minha admiração e pelas tentativas que fizera para dar publicidade aos seus métodos. Fiquei orgulhoso, também, ao pensar que havia dominado tanto o seu sistema a ponto de aplicá-lo de forma a obter sua aprovação. Ele tomou a bengala de minhas mãos e examinou-a por alguns minutos com os olhos nus.

Depois, com urna expressão de interesse, largou o seu cigarro, levando a bengala até a janela e olhando para ela novamente com uma lente convexa.

— Interessante, embora elementar — disse ele ao voltar ao seu canto favorito do sofá. — Há certamente uma ou duas indicações na bengala. Elas nos dão a base para várias deduções.

— Alguma coisa me escapou? — perguntei com alguma importância. — Espero que não haja nada importante que eu não tenha visto.

— Receio, meu caro Watson, que a maioria das suas conclusões estejam erradas. Quando eu disse que você me estimulava quis dizer, para ser franco, que ao notar os seus enganos fui conduzido ocasionalmente em direção à verdade. Não que você esteja inteiramente errado neste caso. O homem é certamente um médico do campo. E anda um bocado.

— Então eu estava certo.

— Até esse ponto.

— Mas isso era tudo.

— Não, não, meu caro Watson, não tudo, de modo algum tudo. Eu sugeriria, por exemplo, que um presente a um médico tem mais probabilidade de ser feito por um hospital do que por um grupo de caçadores, e que quando as iniciais "C.C." são colocadas antes desse hospital as palavras "Charing Cross" se sugerem por si mesmas muito naturalmente.

— Pode ser que você tenha razão.

— A probabilidade está nessa direção. E se tomarmos esta como unia hipótese de trabalho temos uma nova base da qual começar a reconstituição do nosso visitante desconhecido.

— Bem, então, supondo que C.C.H. signifique Charing Cross Hospital —, que outras deduções podemos tirar?

— Nenhuma se sugere por si mesma? Você conhece os meus métodos. Aplique-os!

— Só posso pensar na conclusão óbvia de que o homem clinicou na cidade antes de ir para o campo.

— Acho que podemos nos aventurar um pouco além disso. Considere a coisa assim. Em que ocasião seria mais provável que este presente fosse dado? Quando os seus amigos se reuniriam para dar-lhe um penhor da sua estima? Obviamente no momento em que o Dr. Mortimer retirou-se do serviço do hospital para iniciar-se na clínica por conta própria. Sabemos que houve um presente. Sabemos que houve uma mudança de um hospital da cidade para uma clínica no campo. É, então, levar a nossa dedução longe demais dizer que o presente foi por ocasião da mudança?

— Isso certamente parece provável.

— Agora, você observará que ele não podia fazer parte da equipe do hospital, uma vez que só um homem bem estabelecido numa clínica londrina podia ter um cargo desses, e um homem assim não iria se deixar levar para o campo. O que era ele, então? Se ele estava no hospital e apesar disso não fazia parte da equipe só podia ser o cirurgião da casa ou o médico da casa, pouco mais do que um residente. E ele saiu há cinco anos, a data está na bengala. Portanto, o seu médico de família, sério, de meia-idade, desaparece no ar rarefeito, meu caro Watson, e surge um rapaz jovem com menos de trinta anos, amável, sem ambição, distraído, e dono de um cão de estimação, que eu descreveria grosseiramente como sendo maior do que um terrier e menor do que um mastim.

Ri incrédulo quando Sherlock Holmes inclinou-se para trás no sofá e soltou anéis trêmulos de fumaça em direção ao teto.

— Quanto à última parte, não tenho nenhum meio de conferir — disse eu —, mas pelo menos não é difícil descobrir alguns particulares sobre a idade e carreira profissional do homem. — Da minha pequena prateleira de livros de medicina tirei o catálogo dos médicos e procurei o nome. Havia vários Mortimers, mas só um podia ser o nosso visitante. Li em voz alta o seu registro.

— Mortimer, James, M.R.C.S., 1882, Grimpen, Dartmoor, Devon. Cirurgião residente, de 1882 até 1884, do Hospital Charing Cross. Vencedor do Prêmio Jackson de Patologia Comparada, com o ensaio intitulado A Doença é uma Reversão? Membro correspondente da Sociedade Sueca de Patologia, autor de Algumas Anomalias do Atavismo — (Lancet, 1882). — Progredimos? — (Journal of Psychology, março de 1883). Médico oficial das paróquias de Grimpen, Thorsley e High Barrow.

— Nenhuma menção àqueles caçadores locais, Watson — disse Holmes com um sorriso maroto —, mas um médico rural, como você observou muito astutamente. Acho que estou razoavelmente justificado em minhas deduções.

Quanto aos adjetivos, eu disse, se bem me lembro, amável, sem ambição e distraído. Minha experiência diz que só um homem amável neste mundo recebe provas de estima, só um homem sem ambição abandona uma carreira em Londres por uma no campo, e só um homem distraído deixa a sua bengala e não o seu cartão de visitas após esperar uma hora na sala da gente.

— E o cachorro?

— Tem o hábito de carregar esta bengala atrás do seu dono. Já que é uma bengala pesada, o cachorro a segura com força pelo meio, e as marcas dos seus dentes são claramente visíveis. A mandíbula no cachorro, como mostra o espaço entre estas marcas, é larga demais em minha opinião para um terrier e não suficientemente larga para um mastim. Poderia ser, sim, por Deus, é um spaniel de pelos encaracolados.

Ele havia se levantado e atravessado a sala enquanto falava. Parou na reentrância da janela. Havia um tal tom de convicção em sua voz que ergui os olhos surpreso.

Meu caro amigo, como você pode ter tanta certeza.

— Pelo motivo muito simples de que estou vendo o próprio cachorro no degrau da nossa porta, e aí está o toque de campainha do seu dono. Não saia, peço-lhe, Watson. Ele é seu irmão de profissão e a sua presença pode ser útil para mim. Agora é o momento dramático do destino, Watson, quando se ouve um passo sobre a escada que está caminhando para dentro da vida da gente, e não se sabe se para o bem ou para o mal. O que o Dr. James Mortimer, o homem de ciência, pede a Sherlock Holmes, o especialista em crimes? Entre!

A aparência do nosso visitante foi uma surpresa para mim, uma vez que esperava um clínico rural típico. Ele era um homem muito alto e magro, com um nariz comprido com ) um bico, que se projetava entre dois olhos cinzentos, vivos, dispostos muito juntos e faiscando brilhantemente por trás de um par de óculos com aros de ouro. Estava vestido de uma forma profissional mas bastante desleixada, porque sua sobrecasaca estava suja e suas calças puídas. Embora fosse jovem, suas costas compridas já estavam curvadas e ele caminhava com um impulso da cabeça para a frente e um aspecto geral de atenta benevolência. Quando entrou, seus olhos caíram sobre a bengala na mão de Holmes, e ele correu para ela com uma exclamação de alegria.

— Estou tão satisfeito — disse ele. — Eu não tinha certeza se a havia deixado aqui ou no escritório da companhia de navegação. Eu não perderia essa bengala por nada no mundo.

— Um presente, vejo — disse Holmes.

— Sim, senhor.

— Do Hospital Charing Cross?

— De um ou dois amigos de lá por ocasião do meu casamento.

— Meu Deus, meu Deus, isso é mau! — disse Holmes sacudindo a cabeça. O Dr. Mortimer piscou através dos óculos, ligeiramente espantado.

— Por que isso foi mau?

— Apenas porque o senhor desorganizou as nossas pequenas deduções. O seu casamento, diz o senhor?

— Sim, senhor. Eu me casei, e portanto deixei o hospital e com ele todas as esperanças de uma clínica de consultas. Foi necessário para montar um lar próprio.

— Vamos, vamos, afinal de contas não estamos tão errados — disse Holmes. — E agora, Dr. James Mortimer...

— Senhor, Sr. Holmes, Senhor — um humilde M. R. C. S.

— É um homem de mente precisa, evidentemente.

— Um diletante: da ciência, Sr. Holmes, um colhedor de conchas nas praias do grande oceano desconhecido. Presumo que seja ao Sr. Sherlock Holmes a quem esteja me dirigindo e não...

— Não, este é o meu amigo Dr. Watson.

— Prazer em conhecê-lo, senhor. Ouvi mencionarem o seu nome em relação ao do seu amigo. O senhor me interessa muito, Sr. Holmes. Dificilmente tinha esperado um crânio tão dolicocefálico ou um desenvolvimento supra orbital tão bem marcado. O senhor teria alguma objeção a eu passar o dedo pela sua fissura parietal? Um molde do seu crânio, senhor, até o original estar disponível, seria um ornamento para qualquer museu antropológico. Não é minha intenção ser repugnante, mas confesso que cobiço o seu crânio.

Sherlock Holmes indicou uma cadeira ao nosso visitante.

O senhor é um entusiasta da sua linha de ideias, percebo, senhor, como sou da minha — disse ele. — Observo pelo seu indicador que o senhor faz os seus próprios cigarros. Não hesite em acender um.

O homem tirou do bolso papel e fumo e enrolou um no outro com habilidade surpreendente. Ele tinha dedos longos e trêmulos tão ágeis e inquietos como as antenas de um inseto.

Holmes estava em silêncio, mas os seus pequenos olhares penetrantes revelaram-me o interesse que ele tinha em nosso curioso companheiro.

— Presumo, senhor — disse ele por fim —, que não foi simplesmente com o fim de examinar o meu crânio que o senhor me deu a honra de passar por aqui ontem à noite e novamente hoje.

— Não, senhor, não; embora esteja feliz por ter tido a oportunidade de fazer isso também. Vim ao senhor, Sr. Holmes, porque reconheci que eu próprio sou um homem pouco prático, e porque me defrontei subitamente com um problema muito sério e extraordinário. Reconhecendo, como reconheço, que o senhor é o segundo maior especialista da Europa...

— Realmente, senhor! Posso perguntar quem tem a honra de ser o primeiro? — perguntou Holmes com alguma aspereza.

— Para o homem de mente precisamente científica obra de Monsieur Bertillon deve sempre apelar fortemente.

— Então não é melhor o senhor consultá-lo?

— Eu disse, senhor, para a mente precisamente científica. Mas como um homem de negócios prático o senhor é reconhecido como único. Espero, senhor, não ter inadvertidamente...

— Só um pouco — disse Holmes. — Acho, Dr. Mortimer, que o senhor agiria sabiamente se sem mais delongas tivesse a bondade de me dizer claramente qual a natureza exata do problema para o qual pede a minha assistência.

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