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Primeiro Capítulo: A Ilha Misteriosa

Primeiro Capítulo: A Ilha Misteriosa

Capítulo 1

A Ilha Misteriosa Texto Integral
173 páginas

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Preço: R$ 5,05

– Estamos subindo?

– Não, não, pelo contrário. Descemos!

– Pior que isso, senhor Cyrus! Estamos caindo!

– Deus nos acuda! Atirem mais lastro pela borda fora!

– Lá vai o último saco!

– E agora? O balão sobe?

– Nada!

– Estou a ouvir o bater das ondas...

– Temos o mar aqui mesmo debaixo da barquinha!

– Nem deve estar a duzentos metros!

Um comando soou, gritado em voz possante:

– Tudo o que pesar deita-se fora! Tudo! E seja o que Deus quiser!

Foram estas as palavras que atroaram os ares e ribombaram sobre o vasto deserto do oceano Pacífico, cerca das quatro horas da tarde do dia 23 de Março de 1865.

Com efeito, um balão estava a ser arrastado por uma tromba a quase cento e setenta quilômetros à hora, qual frágil bola de sabão, girando ao mesmo tempo sobre si mesmo, como que apanhado por um redemoinho de ar. Presa ao balão, oscilava uma barquinha levando a bordo cinco passageiros. Estes mal se distinguiam, envoltos na cortina de vapores espessos e água pulverizada que arrastava a extremidade pela superfície do mar.

Donde viria aquele aeróstato, autêntico joguete da terrível tempestade? Em que parte do mundo teria levantado voo?

Certamente não teria partido durante o furacão... Ora este já durava há cinco dias. Sendo assim, e fazendo contas a pelo menos três mil quilômetros por dia, era de crer que o balão vinha de muito longe. Em todo o caso, os passageiros não podiam saber onde se encontravam, rodeados apenas pelo denso nevoeiro e sem quaisquer pontos de referência... Nem, tão pouco, saberiam dizer se era noite ou dia.

Entretanto, o balão, aliviado da carga mais pesada – armas, munições e mantimentos –, voltara a subir a uma altitude superior a mil metros. A noite chegou e passou-se em mil e uma inquietações, que poderiam ser mortais, não fossem os passageiros pessoas tão corajosas.

Outro dia nasceu, o dia 24 de Março, e com a aurora o furacão deu mostras de acalmar. As nuvens subiram e, algumas horas depois, a tromba adelgaçou e acabou por rebentar. Pelas onze horas, a atmosfera limpou e o furacão, extinto com o rebentamento da tromba, parecia ter-se transformado em ondas eléctricas, como sucede às vezes com os tufões do oceano Índico.

Foi então que o balão voltou a descer lentamente até às camadas inferiores da atmosfera, parecendo mesmo que se esvaziava e que passava da forma esférica à ovoide! Ao meio-dia, o balão planava apenas a uns seiscentos metros acima do nível das águas. Os passageiros trataram de deitar ao mar as últimas coisas que ainda podiam fazer peso na barquinha, alguns víveres e até pequenos utensílios que tinham nos bolsos. Depois, um deles içou-se às redes que os prendiam ao balão e tentou reforçar as cordas. Era evidente que não podiam fazer mais nada para impedir a descida... O balão perdia gás. Estavam perdidos! Com efeito, não sobrevoavam continente ou ilha onde poisar, não havia uma única superfície sólida onde prender as âncoras do balão. Apenas o imenso oceano e as vagas arremessadas umas contra as outras com uma violência incomparável!

Tornava-se imperioso suster a descida do balão antes que ele fosse engolido pelas ondas. Todavia, apesar dos esforços dos passageiros, a barquinha descia sempre, ao mesmo tempo que era arrastada pelo vento a uma enorme velocidade, de nordeste para sudoeste.

Às duas horas da tarde, o aeróstato estava apenas a cento e poucos metros acima do mar. Por essa hora, a voz de um homem, cujo coração não conhecia o medo, fez-se ouvir:

– Deitamos tudo fora?

– Ainda temos dez mil francos em ouro.

O pesado saco foi imediatamente borda fora.

– E o balão? Sobe?

– Um pouco, mas não tardará a descer.

– Há mais alguma coisa para deitar fora?

– Mais nada!

– Há, sim! A barquinha!

– Agarremo-nos à rede... e barquinha ao mar!

Era, na verdade, a única e a última coisa a fazer para aliviar o peso do balão. As cordas que prendiam a barquinha foram metros, com os cinco passageiros agarrados às cordas sobre o abismo. Mas o gás continuava a escapar-se pelo rasgão, impôs.

Os passageiros tinham feito tudo o que era humanamente possível e, agora, só lhes restava esperar a ajuda de Deus. Às quatro da tarde, apenas cento e cinquenta metros os separavam do mar. Ouviu-se, então, o ladrar sonoro do cão que acompanhava os passageiros, bem preso às cordas junto ao dono.

– O Top viu qualquer coisa!

– Terra! Terra à vista! – gritou alguém.

O balão, arrastado para sudoeste pela ventania, já tinha, por essa altura, percorrido uma distância considerável. Mas não havia dúvidas! Para sudoeste, lá estava ela, a terra firme, a uma hora de distância, se o vento não mudasse. Uma hora ainda! E se o balão, entretanto, perdesse todo o gás?

Pelas quatro e meia, o aeróstato, cada vez mais vazio e enrugado, já arrastava os passageiros pela crista das ondas.

De repente, soaram gritos terríveis! Estavam apenas a duzentas braças (*) da praia, quando um formidável golpe de mar apanhou o balão, e este, como que liberto de um peso, subiu de esticão aos quatrocentos e cinquenta metros. Aí, apanhado numa espécie de redemoinho de vento, começou a ser impelido paralelamente à costa, até que obliquou e acabou por cair na areia da praia, fora do alcance das vagas.

Os passageiros, ajudando-se uns aos outros, apressaram-se a libertar-se das malhas da rede. O balão, finalmente livre de peso, desapareceu no espaço empurrado pelo vento, qual pássaro ferido que reencontra um último sopro de vida.

Mas a barquinha havia transportado cinco passageiros e um cão, e as pessoas lançadas à praia eram apenas quatro! O passageiro que faltava fora certamente levado pelo último golpe de mar, e esse alijar do peso permitira que o balão tivesse subido pela derradeira vez e, depois, atingido a praia!

Logo que os quatro náufragos – assim lhes poderemos chamar – deram pela falta do companheiro, exclamaram:

– Ele há-de tentar nadar para terra! Salvemo-lo! Salvemo-lo!

Estes náufragos, que o furacão atirara à praia, não eram aeronautas de profissão, nem sequer amadores. Eram americanos e prisioneiros de guerra evadidos em circunstâncias absolutamente extraordinárias.

Nesse mesmo ano de 1865, no mês de Fevereiro, no decurso da Guerra da Secessão, o general Grant tentara conquistar, sem êxito, a cidade de Richmond, na Virgínia. Ora aconteceu que, durante esse ataque falhado, vários dos seus oficiais foram feitos prisioneiros pelo inimigo. Um dos mais distintos pertencia ao estado-maior federal e chamava-se Cyrus Smith.

Cyrus Smith, natural do estado do Massachusetts, era um engenheiro e homem de ciência ilustre, a quem o governador da União havia confiado, durante a guerra, a direção dos caminhos de ferro, de grande importância estratégica.

Verdadeiro americano do Norte, magro e seco de carnes, teria cerca de quarenta e cinco anos e já lhe começavam a branquear o cabelo cortado curto, e o bigode farto. Autêntico homem de ação e, ao mesmo tempo, homem de ideias, era movido por uma força anímica e uma persistência tenaz daquelas que desafiam todas as fatalidades do destino. Muito instruído e dotado de sentido prático, este temperamento soberbo e senhor de si, fossem quais fossem as circunstâncias, reunia as três condições básicas da energia humana: atividade do espírito e do corpo, impetuosidade do desejo e força de vontade. A divisa adaptada por Guilherme de Orange, no século XVII, bem podia ser a sua:

"Não careço da esperança para tentar; nem do êxito para perseverar." Cyrus Smith era a coragem em pessoa.

Juntamente com Cyrus Smith, outra personagem importante caía nas mãos dos Sulistas: Gedeão Spilett, o notável jornalista do New York Herald, enviado com os exércitos do Norte para relatar as peripécias da guerra.

Spilett pertencia àquela raça de cronistas ingleses e americanos, que não recua diante de nada para obter uma informação exata e para a transmitir ao seu jornal com a brevidade possível. Homem de grande mérito, enérgico e pronto para tudo, conhecia praticamente o mundo inteiro, sem nunca olhar a trabalhos e fadigas, sem temer um perigo! O que contava era a notícia para o jornal, a informação, a curiosidade pelo inédito e pelo desconhecido. Por tudo isto, sentia-se pronto a enfrentar fosse o que fosse e era vê-lo sem um estremecimento na primeira fila da batalha, de arma numa mão e bloco na outra, a tomar notas debaixo da metralha. Gedeão Spilett não teria mais de quarenta anos; era um homem alto, com o rosto emoldurado por suíças loiras a puxar para o ruivo e um olhar vivo e rápido, habituado a captar o mais pequeno pormenor. A constituição robusta tinha-se-lhe temperado em todos os climas, assim como uma barra de aço em água fria.

Cyrus Smith e Gedeão Spilett, que só se conheciam de nome, haviam sido transportados juntos para Richmond. Simpatizaram logo um com o outro e, com o tempo, aprenderam a estimar-se.

Não tardou que ambos pensassem apenas na fuga, para se juntarem de novo ao exército de Grant e combater nas fileiras da União.

Os dois americanos resolveram, pois, aguardar a primeira oportunidade. Muito embora pudessem andar em liberdade pela cidade, Richmond estava tão bem guardada, que qualquer evasão apresentava-se quase impossível. Entretanto, um criado de Cyrus Smith conseguira reunir-se ao patrão. De raça negra e nascido de escravos numa plantação do engenheiro, há muito que fora alforriado pelo patrão, abolicionista convicto. Este escravo tornado homem livre não tinha querido deixar o patrão e por ele daria a própria vida! Era um rapaz de trinta anos, vigoroso e ágil, inteligente e calmo, por vezes até ingênuo, mas sempre prestável e bom. Chamava-se Nabucodonosor, mas só respondia pela abreviatura familiar de Nab. Ora, quando Nab soube que o patrão tinha sido feito prisioneiro, partiu do Massachusetts sem hesitar um segundo; chegado diante de Richmond, só à força de muita astúcia e habilidade, depois de ter arriscado a vida umas vinte vezes, conseguiu entrar na cidade cercada. Mas, enquanto Nab conseguira entrar, sair era muito mais difícil, porque os prisioneiros federais eram vigiados de perto. Empreender uma fuga bem sucedida, só numa ocasião excepcional, que não só não surgia, como era muito difícil fazer surgir.

Todavia, o cerco continuava, e se havia prisioneiros federais a querer fugir para se reunirem ao exército de Grant, não era menos verdade que certos sitiados pretendiam fazer o mesmo para se juntarem ao exército separatista...

Um deles era Jonathan Forster, sulista ferrenho, impedido de sair da cidade pelos exércitos do Norte. O governador de Richmond, há muito impedido de contactar com o general Lee, tinha o maior interesse em fazer-lhe chegar notícias da situação da cidade e pedir socorro. Foi então que esse tal Jonathan Forster se ofereceu para subir num balão e tentar, desse modo, atravessar as tropas sitiantes e alcançar o acampamento separatista.

O governador autorizou a tentativa e o aeróstato foi fabricado.

Forster e os cinco homens que o deviam acompanhar receberam armas e víveres para o que desse e viesse.

A partida foi marcada para a noite de 18 de Março. Com vento médio de noroeste, os aeronautas contavam atingir o quartel-general de Lee em poucas horas.

O pior é que o tempo mudou e o vento de noroeste não tardou a transformar-se em furacão! A violência da tempestade era tal , que a partida de Forster foi adiada. O balão, esse, lá estava na maior praça de Richmond, cheio e pronto a largar mal o vento abrandasse. Mas as condições atmosféricas não mudavam e a impaciência crescia. Na manhã do dia 20, o furacão não só não amainara, como ainda redobrara de intensidade. Partir estava fora de questão!

Nesse dia, o engenheiro Cyrus Smith foi abordado numa rua de Richmond por um desconhecido. Era um marinheiro de nome Pencroff, entre os trinta e cinco e os quarenta anos, com um rosto simpático e olhar vivo. O tal Pencroff era um americano do Norte, que viajara por todos os mares do Globo e a propósito de quem se podia dizer que não havia aventura que não lhe tivesse acontecido. Ousado e empreendedor, pouca coisa seria capaz de o apanhar de surpresa. Por questões de negócios, Pencroff chegara a Richmond no princípio do ano, na companhia de um rapaz de quinze anos, Harbert Brown, natural de New Jersey, filho do seu capitão, um órfão que ele amava como se fosse seu. Apanhado pelo cerco da cidade, a única coisa que queria era fugir de qualquer maneira. Conhecendo a reputação do engenheiro Smith e sabendo da sua impaciência pelo cativeiro, não hesitou Pencroff em abordá-lo sem grandes rodeios:

– Senhor Smith, é verdade que pretende fugir?

– Quando? – respondeu prontamente o engenheiro, vendo num relance a honestidade do homem que tinha à sua frente. E acrescentou: – Mas quem é você?

Pencroff apresentou-se.

– Muito bem!– respondeu Cyrus Smith. – E como é que vamos fugir.

– Naquele balão paspalho que está acolá sem préstimo e que parece mesmo à nossa espera...

O marinheiro nem precisou de acabar a frase. O engenheiro pegou-lhe no braço e levou-o para casa. Uma vez lá chegados, Pencroff expôs o seu plano, que não podia ser mais simples. A única coisa que arriscavam era a vida. O furacão estava no auge, é verdade, mas um engenheiro hábil e audaz como Cyrus Smith saberia, certamente, conduzir o aeróstato...

Smith ouvia o marinheiro sem dizer palavra, de olhos a brilhar. Ali estava a ocasião tão desejada e ele não era homem para a deixar escapar. O plano era arriscado, logo exequível.

De noite, iludida a vigilância, aproximar-se-iam do balão, entrariam na barquinha, cortariam as cordas e... pronto! Mas, antes de continuarem, esclareceu:

– Não estou sozinho!

– E quantas pessoas quer levar? – perguntou o marinheiro.

– Duas: o meu amigo Spilett e Nab, o meu criado.

– Três, portanto – respondeu Pencroff. – Com o Harbert e eu, cinco! Ora o balão devia levar seis...

– Não é preciso dizer mais nada. Vamos!

O jornalista, posto ao corrente do plano, aprovou-o sem reservas.

– Então, até logo à noite! – disse Pencroff. – Para não levantar suspeitas, ficamos por ali como simples curiosos. Às dez horas, na praça! E queira Deus que a tempestade não abrande até lá! – disse Cyrus Smith.

Pencroff despediu-se e foi ter com o jovem Harbert Brown. O corajoso rapaz conhecia os planos do marinheiro e também ele esperava, cheio de ansiedade, a resposta do engenheiro Smith. Está visto que eram cinco homens determinados, aqueles que se iam lançar na tormenta, em pleno furacão!

Pelas nove e meia, Smith e os companheiros esgueiraram-se para a praça, mergulhada na mais completa escuridão, dado que o vendaval apagara os candeeiros de gás. Nem o enorme aeróstato se via, todo inclinado para o chão! Para além dos sacos de areia que prendiam as cordas da rede, a barquinha estava segura por um cabo muito forte que passava por uma argola presa ao chão. Os cinco prisioneiros reuniram-se junto do balão; ninguém os vira, nem eles se viam uns aos outros, tal era a obscuridade.

Cyrus Smith, Gedeão Spilett, Nab e Harbert tomaram lugar na barquinha, sem uma palavra, enquanto Pencroff se encarregava de soltar os sacos de lastro, um a um. Pouco depois, o marinheiro juntava-se aos companheiros.

O balão encontrava-se preso apenas pelo cabo e só faltava que o engenheiro Smith desse a ordem de partida... Então, nesse mesmo instante, um cão saltou para dentro da barquinha! Era Top, o cão do engenheiro, que partira a corrente e correra atrás do dono. Temendo excesso de peso, Smith ainda quis pôr fora o animal, mas Pencroff decidiu:

– Ora! Mais um! – e desfez-se de mais dois sacos de lastro.

Seguidamente, soltou o cabo e o balão subiu todo inclinado, acabando por desaparecer.

Entretanto, o furacão atingira uma fúria assustadora. A noite passou sem que fosse possível descer em parte alguma, e, quando o dia rompeu, não trouxe melhoras: a visibilidade era nula por causa do nevoeiro densíssimo. Só cinco dias mais tarde, por ocasião de uma ligeira aberta, é que os passageiros souberam que o aeróstato estava a ser arrastado pelo vendaval sobre o mar imenso!

Já sabemos o que se passou a seguir e como quatro homens, dos cinco que tinham partido na noite de 20 de Março, foram arremessados no dia 24 a uma costa deserta, a mais de doze mil quilômetros do seu país! Ora o passageiro que faltava, aquele que os quatro sobreviventes queriam salvar a todo o custo, era precisamente o seu chefe natural, o engenheiro Cyrus Smith!

No dia 5 de Abril, Richmond caia em poder das tropas do general Crant, depois de reprimida a revolta dos separatistas. O general Lee bateu em retirada para oeste e a causa da União Americana triunfou.

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